Home Nóticias O Imbróglio do STF em incluir Ramagem e a manobra do PL para parar a ação penal do 8/1

O Imbróglio do STF em incluir Ramagem e a manobra do PL para parar a ação penal do 8/1

by admin
0 comentário


O Supremo Tribunal Federal (STF) encontra-se, mais uma vez, no centro de um embate político-jurídico que expõe as tensões entre os poderes da República. A recente decisão da Primeira Turma do STF de incluir o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) como réu em uma ação penal por suposta tentativa de golpe de Estado, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros aliados, abriu uma brecha que o Partido Liberal (PL) não hesitou em explorar. Com base no Artigo 53 da Constituição Federal, o PL protocolou um pedido de sustação da ação penal na Câmara dos Deputados, uma jogada que pode paralisar o processo não apenas contra Ramagem, mas também contra todos os corréus, incluindo Bolsonaro. O que parecia ser uma estratégia sólida do STF para avançar nas investigações pode agora se transformar em um revés significativo, levantando a questão: será que o tribunal subestimou o poder das prerrogativas parlamentares?

O Artigo 53 da Constituição estabelece que a Câmara pode, por iniciativa de um partido e com o voto da maioria absoluta de seus membros (257 votos), sustar o andamento de uma ação penal contra um deputado em exercício do mandato, desde que os crimes imputados tenham ocorrido após a diplomação. O pedido do PL, protocolado em 1º de abril de 2025, fundamenta-se exatamente nessa prerrogativa, argumentando que Ramagem, como parlamentar ativo, tem direito a essa proteção enquanto estiver no cargo. A Câmara tem até 45 dias para deliberar, e, caso o pedido seja aprovado, a ação ficará suspensa até o fim do mandato de Ramagem, em 31 de dezembro de 2026. Como o processo penal é único e envolve corréus, a suspensão afetaria também Bolsonaro e os demais acusados, adiando qualquer desfecho judicial por pelo menos mais um ano e meio.

A manobra do PL é, sem dúvida, um golpe de mestre no tabuleiro político. O partido de Bolsonaro, liderado na Câmara por Sóstenes Cavalcante, não apenas busca proteger Ramagem, mas também garantir um respiro ao ex-presidente, que enfrenta a possibilidade de uma condenação severa. A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), aceita pelo STF, acusa Ramagem de ter usado sua posição como ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para articular ações que visavam descredibilizar o sistema eleitoral e apoiar um suposto plano golpista. A inclusão de um deputado em exercício na mesma ação que Bolsonaro, no entanto, parece ter sido um cálculo arriscado por parte do STF — ou, talvez, uma falha de previsão que agora coloca o tribunal em xeque.

É difícil acreditar que o STF, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, não tenha considerado essa possibilidade. Moraes, conhecido por sua postura firme e detalhista, tem conduzido as investigações sobre os atos antidemocráticos com mão de ferro, acumulando decisões que muitas vezes desafiam o establishment político. Contudo, ao optar por englobar Ramagem na ação penal, o tribunal pode ter subestimado a capacidade do PL de mobilizar a Câmara em defesa de suas prerrogativas. A Constituição, afinal, é clara: o poder de sustar ações penais é uma ferramenta legítima nas mãos do Legislativo, e o PL está jogando estritamente dentro das regras do jogo.

Se o pedido for aprovado, o impacto será profundo. Além de adiar o julgamento de Bolsonaro, a suspensão pode enfraquecer a narrativa de celeridade que o STF busca impor em casos de ameaça à democracia. Para Alexandre de Moraes, que tem sido o principal alvo das críticas da base bolsonarista, a situação representa um desafio adicional: como contornar uma prerrogativa constitucional sem abrir flancos para acusações de abuso de poder? Qualquer tentativa de “desviar” dessa sustação, como sugere o título, exigiria uma interpretação criativa — e potencialmente controversa — da Constituição, algo que o próprio Moraes já fez em outras ocasiões, mas que sempre gera desgaste político e jurídico.

Por outro lado, o PL enfrenta seu próprio risco. Conseguir 257 votos na Câmara não é tarefa trivial, especialmente em um cenário de fragmentação partidária e interesses divergentes. A oposição ao governo Lula, embora barulhenta, nem sempre se traduz em coesão nas votações. Além disso, a opinião pública, ainda sensível aos eventos de 8 de janeiro de 2023, pode interpretar a manobra como uma tentativa descarada de blindar acusados de crimes graves, o que poderia custar caro ao partido nas eleições municipais de outubro de 2026.

O imbróglio expõe, acima de tudo, a fragilidade do equilíbrio entre os poderes no Brasil. O STF, ao incluir um deputado em exercício na ação, deu ao Legislativo a chance de reafirmar sua autonomia. O PL, por sua vez, transforma uma garantia constitucional em arma política. E no meio disso tudo está Bolsonaro, que, mesmo fora do Planalto, continua a influenciar o jogo. Se o pedido de sustação vingar, será uma vitória temporária para o ex-presidente e uma lição para o STF: no xadrez da democracia brasileira, até os movimentos mais calculados podem levar a um inesperado xeque-mate.



Source link

You may also like

Design sem nome (84)

Sua fonte de notícias para brasileiros nos Estados Unidos.
Fique por dentro dos acontecimentos, onde quer que você esteja!

TV BRAZIL USA- All Right Reserved. Designed and Developed by STUDYO YO